Algumas memórias! Algumas que tenho, outras tantas que hoje desenho...
Pois se não as tive, gostaria de ter!...
Entre as lembranças, momentos de glória!
Se não fizeram parte da minha história, hoje vão fazer!
Pois posso inventar e fazer dentro de mim tudo acontecer!
Ah minha infância... Lembrá-la é reviver ! Adolescência, na busca da minha essência!... Juventude!...
Quanta abundância em reminiscências, quanta plenitude!
Me ocorre e escorre pelos meus pensamentos lembrar da minha casa!
Aquela que entre tantas paredes desenhadas de sonhos, comportava os segredos de minha alma!
E foram tantas casas ... na verdade ninhos, que me ensinaram a criar asas!
Mas uma casa em especial, me transporta novamente para dentro dela!...
E um grande suspiro me invade !...
Quanta saudade!
Era o alpendre na entrada ! Que dava o maior charme à fachada!
Com duas convidativas cadeiras!
Entre elas, lindas floreiras!
Para receber os convidados, no aconchego de um lar verdadeiro!
Se não me engano duas arandelas!
Iluminando o alpendre, entre as sombras das cortinas, com bandôs nas janelas!
Se revela um cenário mágico!
Personagens num vai e vem constante!
Mas ainda não é o momento de esboçar qualquer sentimento , de vislumbrar cada um deles !
Só e somente atento o olhar para a sala mais linda, como se nenhuma outra como aquela existisse ainda! Uma mesa de fórmica ,que aparava a tv preto e branco, colorindo nossas vidas!
De todas as cores e emoções jamais sentidas!
Um sofá aconchegante!
Com almofadas brilhantes , suaves toques de cetim !
Ao lado uma estante,onde os livros parecem querer voar !
De tão manuseados, os pobre coitados, entre títulos variados, saltitavam de mão em mão!
De cômodo a cômodo da casa espalhados!
Páginas abertas como olhos olheiros! Parecendo até que sabiam que aquela casa tinha muita história para contar!
Duas poltronas bufantes , braços abertos! Com almofadas bordadas, tigres e elefantes! Não puramente decorativas!
Davam ao ambiente uma sensação aconchegante!
Nas paredes dois quadros: a Arca de Noé e A Travessia do Mar Vermelho!
Era um símbolo de fé!
Abaixo algumas cadeiras, para as visitas! Para ampliar o ambiente, um enorme espelho!
Da sala se via a copa, separada por um grande arco, pois não havia porta!
Nesse arco uma bela cortina de crochê !
Uma mesa ,oito cadeiras e um enorme bufê!
Acima do bufê a Santa Ceia, era moda, uma maneira das refeições abençoar!
E como não me lembrar ...
A lamparina vermelha!
Que só estava sobre a mesa para enfeitar!...
A cozinha, sempre pronta para preparar! Do mais simples ao mais requintado prato!
O relógio marcava as horas num badalar musical!
Por vezes nos esquecíamos de dar cordas!
Mas as horas passavam infalíveis !
Como sopro invisíveis!
E o relógio lá de casa era o retrato do tempo ! Tempo esse abstrato.
Tempo que não para, não se mede!
Quanto aos moradores de minha casa ?!!! Ah, essa é outra história!
É a minha tribo, a quem devo o tributo, da minha mais nobre e fiel memória!
Por enquanto não é chegada a hora!
Paro o meu relógio por aqui ! Pois não saberia descrevê-los! Para tanto, teria que cometer a ousadia de transformar em magia...
Dar cordas ao relógio do meu coração, de dentro para fora!
Num só verso dedicar-lhes uma canção! Uma melodia ,uma trilha sonora que só fale de amor!
Gislene Boldorini.