SAPATILHAS
Vânia de Farias
Hoje lembro com saudades
dos meus tempos na infância
teu carinho, tua ânsia
de me ver bem arrumada
bem vestida, qual princesa
do teu reino de beleza
eis que em tua natureza
só o belo faz morada
tuas mãos de artesã
costurando às sapatilhas
com o feltro de turqueza
e um broche como vejo
esta rosa feita em fitas.
Que carinho demonstravas
ao fazeres os adereços
os chapéus, os vestidinhos
de organza e fitilhos
tu gostavas de um linho
organdi e algodão
de rendinhas e de chitão
para as quadrilhas juninas
como é bom ser tua filha
na infância e mocidade
pelas ruas da cidade
que acolheu a família
bem pequena, já sabemos
mas crescia a cada dia
com a chegada dos amigos
afilhados, e comadres
os compadres e vizinhos.
Mas voltemos aos aderêços:
Todos feitos com esmero
eis que trazias do berço
o talento da modista
que um dia te tornara
mas a tua preferência
era criar pra crianças
talvez vivendo a infância
que não tivesses um dia
por teres que crescer rápido
e assumir a família
desde teus doze aninhos
cuidando de teus irmãos
visitados pela morte
de tua mãezinha querida
talvez por teres perdido
parte de um tempo tão belo
a infância e seus castelos
seus sonhos e fantasias
nunca perdestes a esperança
de reviver à infância
que fora interrompida
e então eu me transformei
em tua boneca querida
mas não brincavas com à vida
eras mulher valente
destemida, forte e ética
generosa e equilibrada
respeitada e admirada
por aquelas cercanias.
Teu nome? Uma referência
de discrição e bondade
não falavas em caridade
pois caridade fazias
não eras de discursar
sobre teus feitos e bondade
pra tu já era bastante
cumprir com teu desiderato
de viver neste teatro
com tantas máscaras e falsidades
com a tua integridade
coerência e compromisso
não permitias que o lixo
moral da sociedade
fosse motivo pra buxixo
transformando em alacridade
à dor dos irmãos sofridos
mas saías a socorrer
a todos que a ti chamavam
não importava o que fosse
um parto, um novo ser
a chegar em nosso orbe
ou mesmo o luto que cobre
a família de um amigo.
Hoje quero agradecer
por ainda querida
por mulher tão aguerrida
que jamais foge ao combate
que nunca abandona os seus
mesmo estando em outro plano.
Um dia, sei que te encontro
e num abraço feliz
relembraremos o quanto
fomos felizes um dia
Cúmplices e eternas amigas
bem como mãe e filha.
Vânia de Farias Castro
Em 08 de novembro de 2014.
